sábado, 23 de novembro de 2013

O que é Arte Tradicionalista e a sua importância para o pintor, para a sociedade, para o leigo, e para o comprador


       Arte tradicional é a arte que é parte de uma cultura de certo grupo de pessoas, com habilidades e conhecimentos passados através de gerações, de mestres a aprendizes. Mas no meu meio, o meio acadêmico, quando falamos em Arte Tradicional, quase sempre nos referimos ao que chamamos de Arte Clássica - às idéias surgidas com o Renascimento e Iluminismo acerca do que a arte deve representar para a sociedade, e estes conceitos estão diretamente ligados ao Academicismo. Academicismo é o método de ensino artístico profissionalizante, concebido, formalizado e ministrado pelas academias de arte europeias. Há, no academicismo, a valorização de mestres consagrados, veneração à tradição clássica, e a adoção de conceitos formulados coletivamente, que possuíam, além de um caráter estético, também uma origem e propósito éticos.
E é desses conceitos que me proponho a falar. Pelo menos dos conceitos que eu entendo e acredito. Verdades artísticas que podem ter sido incontestadas no passado, são hoje mergulhadas em uma batalha ideológica feroz, e, a menos que uma defesa seja feita para suas persistências através dos séculos até os dias de hoje, o mercado vai alegremente deixá-las de lado.
Sendo a arte algo feito para nos fazer pensar e refletir, como comentei no primeiro tópico, trago a seguinte questão: As gerações do século XXI são particularmente vulneráveis às tentações e distrações que permeiam nosso cotidiano, sejam propagandas de televisão ou as seduções ​​da internet, etc. Há pouco espaço deixado para reflexão, e os "pontos de descanso" em que encontramos consolo são cada vez mais difíceis de encontrar. E, num mundo onde as pessoas vivem suas vidas em infinita correria, e um pode não achar mais tempo para aproveitar sua vida como queira, precisamos parar para pensar. Precisamos mais do que nunca deste tempo para sentir e refletir. Precisamos voltar a entender o que é a beleza, e como podemos trazer ela para as nossas vidas. Da mesma forma que assistimos um filme para “desopilar”, a arte (ou outros tipo de arte, podemos dizer) tem de nos trazer a chance de fazer o mesmo, refletindo sobre pontos e tópicos importantes para a sociedade e nossas vidas atuais. Refletindo, talvez, sobre como podemos viver melhor.
A grande Arte é projetada para expressar e lidar com as emoções autênticas, mas para a maior autoridade do mundo sobre questões estéticas, Professor Roger Scruton, muito do trabalho produzido nas últimas décadas está aquém deste padrão amplamente incontroverso (amplamente aceito e fácil de ser entendido). Os artistas de hoje parecem estar mais preocupados em fazer algo que seja original por si mesmo e não com algo com que eles se relacionem. Outrora, em suas paixões e afetos, através de seus triunfos e tragédias, os grandes artistas capturavam a condição humana em sua forma bruta e não diluída.
Mas por que a arte clássica é importante? Que papel tem a Arte Clássica em um mundo que aparentemente passou-a para trás, deixando-a no passado?
Ora, a maneira que "as coisas aparecem para nós" epistemologicamente pode mudar radicalmente a forma como vemos o mundo e, assim, o grau em que valorizamos o que nos é apresentado. Arte importa porque ela nos fornece a oportunidade de parar a marcha do tempo, para estar na frente de nós mesmos e reconhecer o que nos tornamos.
Mas virtudes da arte clássica, incluindo a habilidade de pintar, têm sido negligenciadas nas últimas décadas. Mas qual é a diferença entre a pintura realista e uma fotografia?
Eu, Rafael, reafirmo o que disse o Alan Lawson, que a fotografia captura instantaneamente um conjunto de valores de cor, mas o pintor deve decidir por si mesmo o que será enfatizado ou neutralizado, durante todo o tempo adaptando a obra à mudanças de luzes, ou mudando tons. Enquanto uma fotografia captura apenas um vislumbre momentâneo de humor, um retrato pintado tem a intenção de transmitir um temperamento cumulativo revelado ao longo de uma sessão. Não que a fotografia não seja capaz de capturar um conjunto de sentimentos, mas ao pintor esta habilidade de captura está diretamente relacionada à sua técnica.
Mas a importância de tais distinções só importa se o espectador comum estiver disposto a vê-las. É dentro do “antigo reino” que a arte cria seu significado. Arte sugere uma maneira de ser, e nos convida a viver dentro de sua visão. Ela cria um lugar em que nós queremos estar, um lugar em que habitamos simultaneamente enquanto nos esforçamos para chegar lá.
Mas independentemente da técnica utilizada, a pessoa que vê uma obra deve olhar para ela e sentir alguma emoção, aprender algo com ela. Mesmo que você não saiba nada sobre o estilo da obra em si, impressionismo, realismo, naturalismo, etc., a admiração ainda será mais importante para o artista. E mesmo que não seja capaz de identificar, olhando a obra, as batalhas travadas pelo artista durante sua construção, a valorização das habilidades e conhecimentos técnicos do artista será sempre bem apreciada. A habilidade do artista é um dom, e este deve ser valorizado.
Mas falando em estilos, onde eu me encaixo?
Bem, posso dizer que sou um pintor naturalista e realista. Não entendo muito sobre essas artes abstratas, Instalações, etc. Entendo de arte ilustrativa. Uma imagem que representa algo palpável, e que com isso transmite emoções, e não algo abstrato que tenta expressar emoções diretamente, talvez chocando a plateia. Meu negócio é pintura clássica, naturalista, realista, ilustrativa.
Todos os grandes nomes da pintura clássica naturalista/realista/ilustrativa, tiveram, se não o mesmo, um muito parecido treinamento como o que temos na Florence Academy of Art, e em outras Academias. Nos séculos passados não existiam Academia públicas, com alunos pagando mensalidades, mas existiam as Academias reais, fundadas e mantidas pelos reis e cortes. As pessoas aprendiam o ofício da Pintura ou sendo ensinados por Mestres nos seus próprios estúdios ou sendo aceitos em uma dessas Academias, o que era algo dificilíssimo, você realmente tinha que ser muito bom. E como não existia a fotografia, o Pintor era algo muito mais valorizado, as pessoas queriam bons pintores capazes de representá-las em uma imagem para a posteridade, ou capazes de ilustrar estórias, histórias, paisagens ou idéias, de forma bonita. Então a maioria dos grandes nomes que ouvimos falar hoje passaram por esse processo que estou passando hoje, e tinham um modo de vida parecido. Os artistas foram considerados intelectuais na sociedade a partir do Academicismo, e de fato, nós estamos sempre estudando, sempre pesquisando, sempre pensando. Talvez hoje em dia seja mais fácil fazer qualquer besteira numa tela ou parede e se chamar de artista, mas para esse tipo de arte que fazemos aqui, algumas coisas são requeridas, como a intelectualidade em si. Existe uma cobrança ao pintor classicista/naturalista por certo grau de conhecimento (histórico, técnico, cultural, etc.), o que eu acho certíssimo. Eu posso odiar o Barroco, mas eu preciso saber por que ele existiu, o que influenciou, que tipo de arte foi produzida e por quem. Senão, como eu posso comparar o que e faço com o que já foi feito, ou como usar do conhecimento passado pra tornar meu trabalho mais forte e com mais sentido?
Enfim, por essas razoes, eu entendi que há muito o que aprender, o que estudar. MUITO. E que de fato, ser um pintor é um estilo de vida. Requer sacrifícios e muito esforço. Mas é algo importantíssimo pra todos aqueles que decidem ser Artistas, e, acredito eu, pra toda a humanidade. Arte é essencial para o mundo. Devemos ser pessoas, e não máquinas. E Por isso as habilidades de um artista com um pincel devem ser valorizadas. Pintar bem é difícil.
Talvez as palavras de M. Hoffman, em 1939, sejam ainda relevantes hoje:
“É mais fácil comprar do que vender uma obra de arte nos dias de hoje. O artista não pode viver sem as necessidades básicas. Um bife é tão bom para um pobre pintor ou escultor vivendo em um sótão quanto é para o banqueiro, talvez até melhor, só que é mais difícil para o artista adquirir um. A idéia de que a boa arte floresce apenas quando seu criador está morrendo de fome é uma falácia desgastada.
Se os patronos da arte não tivessem tido a coragem e a imaginação para estimular os seus próprios artistas contemporâneos a esforços heróicos, e não os tivessem apoiado moralmente e financeiramente, onde iríamos achar muitas das nossas inspirações e os acervos dos museus hoje?
O artista, sendo um ser humano muito sensível, é muito afetado pela atitude de seu público, ele estando disposto a reconhecer esse fato ou não. Quando uma mente criativa sente que há uma compreensão ou necessidade de seu trabalho, ele é automaticamente estimulado e incentivado. O fato de que um criador sente que seu trabalho pode ser de valor essencial para alguém a quem ele tem respeito, que acreditam nele e esperam dele a produção de resultados cada vez melhores, é um grande estímulo moral.
Quando a crise financeira recente atingiu o nosso país, o estrato da sociedade que foi afetado de imediato e de forma mais duradoura foi o mundo da arte. Arte torna-se artigo de luxo e, portanto, é marcada como desnecessária. Mesmo a música é considerada um luxo, por aqueles que não percebem que a sua influência mágica pode elevar-nos e dar-nos uma nova esperança. Pode levar um longo tempo para um país para perceber o valor real de sua produção artística, mas aos poucos o sentimento de perda neste campo do espírito tem de ser reconhecido. ‘Onde não há visão, o povo perece’.”


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