domingo, 8 de dezembro de 2013

Arte Tradicional e a valorização da Beleza - The Alpine Fellowship: Arte Clássica renascida na Suíça


Escrito por Casey Thomas Larsen, este artigo sobre a palestra ministrada pelo professor Roger Scruton para a Alpine Fellowship (um programa de bolsas de estudo recém-criado nos Alpes Suíços que tem como propósito fundir arte e filosofia para o benefício de ambos) vem corroborar o meu tópico "Arte Clássica e sua importância para a sociedade, para o pintor, para o espectador e para o comprador. "

Em 6 de Novembro de 2013
Arte moderna pode ser confusa. Enquanto que a maioria das pessoas poderia explicar o significado geral de um Picasso ou Van Gogh, as travessuras de Marcel Duchamp ou, mais recentemente, Tracy Emin tendem a deixar muitos sem palavras. No entanto, se o valor oculto de urinóis assinados e camas desarrumadas (google imagens Tracy Emin) é melhor compreendido em silêncio conjectural, algum tipo de explicação para muitos dos “trabalhos” que preenchem nossas galerias de arte mais modernas não seria ruim, se já não estiver em atraso.
Dizer que as virtudes da arte clássica, incluindo a habilidade de pintar, têm sido negligenciadas nas últimas décadas, seria eufemismo. As obras que solicitam maior atenção tendem majoritariamente a ser aquelas que provocam choque, ou então exibem originalidade por conta própria e por elas mesmas, e a qualquer custo estético. Não é mais suficiente para a arte apenas convidar a nossa simpatia, muito menos ainda ser permitido a Ela exigir a nossa análise.
É difícil encontrar entre muitos centros de aprendizagem, aqueles que ainda deem valor e aprimorem as habilidades do pincel. Mas eles existem. Um desses lugares é a Florence Academy of Art (Academia de Arte de Florença), dirigida pelo artista norte-americano Daniel Graves. Existente "para a formação do pintor realista profissional e escultor”, seus alunos são proibidos de sequer molhar os paletas antes de passar por um rigoroso curso de desenho. Significativamente, a primeira página do site do instituto é anotada com uma citação do pintor francês do século XIX Jean-Hippolyte Flandrin: "Em uma escola de artes plásticas, é o dever do professor ensinar apenas verdades incontestáveis​​, ou pelo menos aquelas que repousam sobre os melhores exemplos aceitos durante os séculos”. Verdades artísticas que podem ter sido incontestadas no passado, são hoje mergulhadas em uma batalha ideológica feroz, e, a menos que uma defesa seja feita para suas persistências através dos séculos até os dias de hoje, o mercado vai alegremente deixá-las de lado.
A Alpine Fellowship é uma iniciativa que espera revigorar esta discussão. Liderada pelo realista Alan Lawson, atua principalmente como um retiro para pintores - para passar três semanas nos Alpes Suíços sob instrução. Mas Lawson, que estudou com Graves em Florença e posteriormente lecionou na Florence Academy, tem como objetivo ampliar a vocação do pintor realista para além do âmbito de sua tela. Ao longo do programa de três semanas, os artistas e estudantes são encorajados a pensar seriamente e provocadoramente sobre o significado e o valor do seu trabalho, participando de discussões e assistindo palestras de eminentes filósofos e esteticistas. Qual é a diferença entre a pintura realista e uma fotografia? Que papel tem a Arte Clássica em um mundo que aparentemente passou-a para trás, deixando-a no passado?
Talvez não haja pessoa mais adequada para sugerir respostas a essas perguntas que o primeiro orador convidado pela Fellowship, Professor Roger Scruton. Como um dos mais ilustres filósofos do mundo (e prolífico), ele tem escrito sobre temas que vão desde a política conservadora e educação à caça e ao meio ambiente. Sua especialidade, porém, é a estética, o assunto em que ele completou seu doutorado e é, talvez, principal teórico do mundo no mesmo. Mas a questão da estética é, para Scruton, nunca um caso isolado. As coisas com que nós mesmos nos cercamos e as escolhas que fazemos sobre o que admirar vem a determinar quem somos.
Scruton abriu sua palestra na Fellowship com uma analogia entre a natureza da sua palestra e o próprio propósito da Alpine Fellowship. Em omitindo o uso de adereços ou ajudas visuais, uma pessoa estaria engajada na tarefa de lidar com o público, ao invés de simplesmente colocar-se em exibição. Da mesma forma, um pintor não deve atrair a atenção para si mesmo, mas de provocar idéias na mente de quem vê o seu trabalho. As gerações do século XXI são particularmente vulneráveis às tentações e distrações que permeiam nosso cotidiano, sejam propagandas de televisão ou as seduções ​​da internet. Há pouco espaço deixado para reflexão, e os "pontos de descanso" em que encontramos consolo são cada vez mais difíceis de encontrar.
Para Scruton, esta serenidade costumava ser procurada na religião, e depois do Iluminismo, encontrada na Arte. Em suas paixões e afetos, através de seus triunfos e tragédias, os grandes artistas capturavam a condição humana em sua forma bruta e não diluída. De Rafael a Rembrandt, Caravaggio a Botticelli, um conjunto de imortais incontestáveis ​​definiu os “melhores exemplos aceitos durante os séculos" de que Flandrin falou. Mas hoje a medida do valor mudou. As explicações preferidas, e as justificativas, para a existência de algo, tendem a ser a sua utilidade, diz Scruton. O que funciona, o que gratifica, o que vende. Nunca o que aquele algo diz ou faz – nunca a relação ele tem com nós, que o contemplamos.
O título completo da palestra do professor Scruton foi “Arte, o Brega e o conceito de Lar”. A grande Arte é projetada para expressar e lidar com as emoções autênticas, mas para a maior autoridade do mundo sobre questões estéticas, muito do trabalho produzido nas últimas décadas está aquém deste padrão amplamente incontroverso (amplamente aceito e fácil de ser entendido). Quando o auto-mimetismo não pode mais ser justificado como uma paródia sofisticada (ou seja, quando artistas obcecados por eles mesmos não têm mais o argumento de que suas obras, como ‘paródias sofisticadas’ de suas vidas, são, de fato, arte), e a representação deliberada de clichês deixa de ser original, com a repetição, o resultado é algo simples e irredutivelmente brega. Esta é a arte que perdeu qualquer senso de significado, e aponta para nada além de si mesma. E sendo assim, deixa de fornecer um meio pelo qual o artista pode se expressar e expor seus sentimentos, e viver em amizade consigo mesmo, para se sentir em casa em um mundo hostil de desejos e paixões, impulsos que exigem a mão libertadora da arte refinada.
Para Scruton, a beleza é um meio de justificar a vida - talvez o único -, então, não só há pouca coisa mais importante do que discutir o sentido e a direção que a Arte toma, mas não há nenhuma esfera da vida que não é afetada pela sua trajetória de evolução. Foi, portanto, conveniente que sua palestra tenha siso seguida por um grupo de discussão que atraiu pensadores uma ampla variedade de origens intelectuais. Presidida pelo historiador de Cambridge John Adamson, Professor Scruton foi acompanhado no painel pelo fundador da Fellowship Alan Lawson, juntamente com o historiador de arte e editor Dr. Hubert Burda, e seu filho Jacob Burda, um membro do programa de filosofia da Universidade de Nova Iorque.
Discutindo as semelhanças e divergências entre antigas e modernas artes visuais, Dr. Burda tocou no fato de que mais de cinquenta mil retratistas parisienses perderam seus empregos como uma consequência imediata do advento da fotografia no início do século XIX. Ainda de acordo com Lawson, isso não precisaria ter ocorrido, pois o pintor/escultor realista não se preocupa apenas em mimetizar o que vê. O pintor não se limita a copiar paisagens, pessoas ou objetos em uma natureza morta, mas sim os traduz e os interpreta. A fotografia captura instantaneamente um conjunto de valores de cor, mas o pintor deve decidir por si mesmo o que será enfatizado ou neutralizado, durante todo o tempo adaptando a obra à mudanças de luzes, ou mudando tons. Enquanto uma fotografia captura apenas um vislumbre momentâneo de humor, um retrato pintado tem a intenção de transmitir um temperamento cumulativo revelado ao longo de uma sessão.
A importância de tais distinções só importa se o espectador comum está disposto a vê-las. Mas os passatempos do mundo moderno não parecem proporcionar a própria atenção dada a eles. E isso apesar do fato de que, de acordo com Jacob Burda, a maneira que "as coisas aparecem para nós" epistemologicamente pode mudar radicalmente a forma como vemos o mundo e, assim, o grau em que valorizamos o que nos é apresentado. Com base na distinção do filósofo alemão Martin Heidegger entre o ontológico (o que existe) e o epistêmico (como as coisas parecem), Burda insistiu que é dentro do antigo reino que a arte cria seu significado. Arte sugere uma maneira de ser, e nos convida a viver dentro de sua visão. Ela cria um lugar em que nós queremos estar, um lugar em que habitamos simultaneamente enquanto nos esforçamos para chegar lá. Um destino que não precisa de justificação além de si mesmo.
Relembrando de seu próprio retrato pintado por Lawson, Dr. Hubert Burda enfatizou que a concentração incorrupta empregada ao longo da sessão não pode ser encontrada em qualquer outra esfera da vida. Arte importa porque ela nos fornece a oportunidade de parar a marcha do tempo, para estar na frente de nós mesmos e reconhecer o que nos tornamos. Talvez até mesmo a julgar o que vemos. Professor Scruton observou que tanto como o amor, a arte pode perder sua pureza, se diluída pelo questionamento excessivo. Muitas vezes, devemos simplesmente aprender a cuidar de uma coisa antes de perguntar em que consiste o seu valor. E uma vez que o nosso tempo é de natureza limitada, o esforço para nos refletir nela - mesmo que apenas temporariamente - será sempre mais nobre do que o desejo de colocar a pequenez da vida na tela.


Vídeos por digiQualia

sábado, 23 de novembro de 2013

O que é Arte Tradicionalista e a sua importância para o pintor, para a sociedade, para o leigo, e para o comprador


       Arte tradicional é a arte que é parte de uma cultura de certo grupo de pessoas, com habilidades e conhecimentos passados através de gerações, de mestres a aprendizes. Mas no meu meio, o meio acadêmico, quando falamos em Arte Tradicional, quase sempre nos referimos ao que chamamos de Arte Clássica - às idéias surgidas com o Renascimento e Iluminismo acerca do que a arte deve representar para a sociedade, e estes conceitos estão diretamente ligados ao Academicismo. Academicismo é o método de ensino artístico profissionalizante, concebido, formalizado e ministrado pelas academias de arte europeias. Há, no academicismo, a valorização de mestres consagrados, veneração à tradição clássica, e a adoção de conceitos formulados coletivamente, que possuíam, além de um caráter estético, também uma origem e propósito éticos.
E é desses conceitos que me proponho a falar. Pelo menos dos conceitos que eu entendo e acredito. Verdades artísticas que podem ter sido incontestadas no passado, são hoje mergulhadas em uma batalha ideológica feroz, e, a menos que uma defesa seja feita para suas persistências através dos séculos até os dias de hoje, o mercado vai alegremente deixá-las de lado.
Sendo a arte algo feito para nos fazer pensar e refletir, como comentei no primeiro tópico, trago a seguinte questão: As gerações do século XXI são particularmente vulneráveis às tentações e distrações que permeiam nosso cotidiano, sejam propagandas de televisão ou as seduções ​​da internet, etc. Há pouco espaço deixado para reflexão, e os "pontos de descanso" em que encontramos consolo são cada vez mais difíceis de encontrar. E, num mundo onde as pessoas vivem suas vidas em infinita correria, e um pode não achar mais tempo para aproveitar sua vida como queira, precisamos parar para pensar. Precisamos mais do que nunca deste tempo para sentir e refletir. Precisamos voltar a entender o que é a beleza, e como podemos trazer ela para as nossas vidas. Da mesma forma que assistimos um filme para “desopilar”, a arte (ou outros tipo de arte, podemos dizer) tem de nos trazer a chance de fazer o mesmo, refletindo sobre pontos e tópicos importantes para a sociedade e nossas vidas atuais. Refletindo, talvez, sobre como podemos viver melhor.
A grande Arte é projetada para expressar e lidar com as emoções autênticas, mas para a maior autoridade do mundo sobre questões estéticas, Professor Roger Scruton, muito do trabalho produzido nas últimas décadas está aquém deste padrão amplamente incontroverso (amplamente aceito e fácil de ser entendido). Os artistas de hoje parecem estar mais preocupados em fazer algo que seja original por si mesmo e não com algo com que eles se relacionem. Outrora, em suas paixões e afetos, através de seus triunfos e tragédias, os grandes artistas capturavam a condição humana em sua forma bruta e não diluída.
Mas por que a arte clássica é importante? Que papel tem a Arte Clássica em um mundo que aparentemente passou-a para trás, deixando-a no passado?
Ora, a maneira que "as coisas aparecem para nós" epistemologicamente pode mudar radicalmente a forma como vemos o mundo e, assim, o grau em que valorizamos o que nos é apresentado. Arte importa porque ela nos fornece a oportunidade de parar a marcha do tempo, para estar na frente de nós mesmos e reconhecer o que nos tornamos.
Mas virtudes da arte clássica, incluindo a habilidade de pintar, têm sido negligenciadas nas últimas décadas. Mas qual é a diferença entre a pintura realista e uma fotografia?
Eu, Rafael, reafirmo o que disse o Alan Lawson, que a fotografia captura instantaneamente um conjunto de valores de cor, mas o pintor deve decidir por si mesmo o que será enfatizado ou neutralizado, durante todo o tempo adaptando a obra à mudanças de luzes, ou mudando tons. Enquanto uma fotografia captura apenas um vislumbre momentâneo de humor, um retrato pintado tem a intenção de transmitir um temperamento cumulativo revelado ao longo de uma sessão. Não que a fotografia não seja capaz de capturar um conjunto de sentimentos, mas ao pintor esta habilidade de captura está diretamente relacionada à sua técnica.
Mas a importância de tais distinções só importa se o espectador comum estiver disposto a vê-las. É dentro do “antigo reino” que a arte cria seu significado. Arte sugere uma maneira de ser, e nos convida a viver dentro de sua visão. Ela cria um lugar em que nós queremos estar, um lugar em que habitamos simultaneamente enquanto nos esforçamos para chegar lá.
Mas independentemente da técnica utilizada, a pessoa que vê uma obra deve olhar para ela e sentir alguma emoção, aprender algo com ela. Mesmo que você não saiba nada sobre o estilo da obra em si, impressionismo, realismo, naturalismo, etc., a admiração ainda será mais importante para o artista. E mesmo que não seja capaz de identificar, olhando a obra, as batalhas travadas pelo artista durante sua construção, a valorização das habilidades e conhecimentos técnicos do artista será sempre bem apreciada. A habilidade do artista é um dom, e este deve ser valorizado.
Mas falando em estilos, onde eu me encaixo?
Bem, posso dizer que sou um pintor naturalista e realista. Não entendo muito sobre essas artes abstratas, Instalações, etc. Entendo de arte ilustrativa. Uma imagem que representa algo palpável, e que com isso transmite emoções, e não algo abstrato que tenta expressar emoções diretamente, talvez chocando a plateia. Meu negócio é pintura clássica, naturalista, realista, ilustrativa.
Todos os grandes nomes da pintura clássica naturalista/realista/ilustrativa, tiveram, se não o mesmo, um muito parecido treinamento como o que temos na Florence Academy of Art, e em outras Academias. Nos séculos passados não existiam Academia públicas, com alunos pagando mensalidades, mas existiam as Academias reais, fundadas e mantidas pelos reis e cortes. As pessoas aprendiam o ofício da Pintura ou sendo ensinados por Mestres nos seus próprios estúdios ou sendo aceitos em uma dessas Academias, o que era algo dificilíssimo, você realmente tinha que ser muito bom. E como não existia a fotografia, o Pintor era algo muito mais valorizado, as pessoas queriam bons pintores capazes de representá-las em uma imagem para a posteridade, ou capazes de ilustrar estórias, histórias, paisagens ou idéias, de forma bonita. Então a maioria dos grandes nomes que ouvimos falar hoje passaram por esse processo que estou passando hoje, e tinham um modo de vida parecido. Os artistas foram considerados intelectuais na sociedade a partir do Academicismo, e de fato, nós estamos sempre estudando, sempre pesquisando, sempre pensando. Talvez hoje em dia seja mais fácil fazer qualquer besteira numa tela ou parede e se chamar de artista, mas para esse tipo de arte que fazemos aqui, algumas coisas são requeridas, como a intelectualidade em si. Existe uma cobrança ao pintor classicista/naturalista por certo grau de conhecimento (histórico, técnico, cultural, etc.), o que eu acho certíssimo. Eu posso odiar o Barroco, mas eu preciso saber por que ele existiu, o que influenciou, que tipo de arte foi produzida e por quem. Senão, como eu posso comparar o que e faço com o que já foi feito, ou como usar do conhecimento passado pra tornar meu trabalho mais forte e com mais sentido?
Enfim, por essas razoes, eu entendi que há muito o que aprender, o que estudar. MUITO. E que de fato, ser um pintor é um estilo de vida. Requer sacrifícios e muito esforço. Mas é algo importantíssimo pra todos aqueles que decidem ser Artistas, e, acredito eu, pra toda a humanidade. Arte é essencial para o mundo. Devemos ser pessoas, e não máquinas. E Por isso as habilidades de um artista com um pincel devem ser valorizadas. Pintar bem é difícil.
Talvez as palavras de M. Hoffman, em 1939, sejam ainda relevantes hoje:
“É mais fácil comprar do que vender uma obra de arte nos dias de hoje. O artista não pode viver sem as necessidades básicas. Um bife é tão bom para um pobre pintor ou escultor vivendo em um sótão quanto é para o banqueiro, talvez até melhor, só que é mais difícil para o artista adquirir um. A idéia de que a boa arte floresce apenas quando seu criador está morrendo de fome é uma falácia desgastada.
Se os patronos da arte não tivessem tido a coragem e a imaginação para estimular os seus próprios artistas contemporâneos a esforços heróicos, e não os tivessem apoiado moralmente e financeiramente, onde iríamos achar muitas das nossas inspirações e os acervos dos museus hoje?
O artista, sendo um ser humano muito sensível, é muito afetado pela atitude de seu público, ele estando disposto a reconhecer esse fato ou não. Quando uma mente criativa sente que há uma compreensão ou necessidade de seu trabalho, ele é automaticamente estimulado e incentivado. O fato de que um criador sente que seu trabalho pode ser de valor essencial para alguém a quem ele tem respeito, que acreditam nele e esperam dele a produção de resultados cada vez melhores, é um grande estímulo moral.
Quando a crise financeira recente atingiu o nosso país, o estrato da sociedade que foi afetado de imediato e de forma mais duradoura foi o mundo da arte. Arte torna-se artigo de luxo e, portanto, é marcada como desnecessária. Mesmo a música é considerada um luxo, por aqueles que não percebem que a sua influência mágica pode elevar-nos e dar-nos uma nova esperança. Pode levar um longo tempo para um país para perceber o valor real de sua produção artística, mas aos poucos o sentimento de perda neste campo do espírito tem de ser reconhecido. ‘Onde não há visão, o povo perece’.”


domingo, 10 de novembro de 2013

Novo Começo / O que é Arte? E por que ela é importante para nós?

READ THIS IN ENGLISH


Bem, agora que me formei e comecei a trabalhar pra mim mesmo, ou seja, comecei de fato a ser uma artista, fazendo minhas próprias pinturas em casa, sinto que estou começando uma nova fase da minha vida. Sem mais faculdades, e com todo o futuro à frente pra seguir meus planos pra a minha vida. E uma das coisas que eu tenho que fazer daqui por diante é investir em mim mesmo, e no meu nome. E isso quer dizer mostrar o que eu faço, e me abrir como artista, mostrar ao mundo quem é o pintor Rafael Guerra, e por que eu faço o que eu faço. 
E por isso resolvi não só falar sobre o que acontece comigo aqui na Europa, pra manter família e amigos atualizados, mas também falar sobre Arte, sobre o que eu faço como artista, e sobre minha vida como pintor, talvez assim possibilitando às pessoas próximas a mim uma melhor visão e um melhor entendimento sobre a minha arte, e quem sabe até atraindo interessados.
Então vou começar já de agora com uma pequena introdução:

Artes vem do Latim ars, artis - maneira de ser ou agir, conduta, habilidade, ciência, talento, ofício. 

E Artes Plásticas remete às artes do desenho, da pintura, da escultura e da arquitetura. 
- Mas a Arte geralmente é entendida como a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada a partir da percepção, das emoções e das idéias, com o objetivo de estimular essas instâncias da consciência e dando um significado único e diferente para cada obra. 
(Sim, tirei isso da Wikipédia)
- A arte é uma criação humana com valores estéticos (beleza, equilíbrio, harmonia, revolta) que sintetizam emoções, história, sentimentos e cultura. É um conjunto de procedimentos utilizados para realizar obras, e no qual aplicamos nossos conhecimentos (técnica, habilidade).


Mas o conceito de arte continua hoje em dia objeto de grandes debates, e permanece, a rigor, indefinido. Mas na bibliografia especializada designa geralmente atividades que têm características criativas e estéticas.

Arte é a expressão magistral e indiscutível da percepção do Belo.Simples, o homem percebe algo Belo (tópico) ao ser redor, e o interpreta da sua maneira, e expressa suas interpretações e suas emoções adquiridas com este Belo em uma obra. A obra então, atinge aqueles que a vêem, instigando novas interpretações, novas emoções, e novas reflexões sobre o tópico em questão.

Mas por que Arte? Qual a importância dela em nossas vidas? 
Eu, Rafael, diria, de forma simples e egoísta: por que arte é um escape. E escapes são necessários. Mas isso é o que arte é para mim, acima de tudo. É uma maneira, pra mim, de sonhar, e de me forçar a ver o mundo de outras formas, através do que se esconde na mente de cada artista, trazendo conhecimento e reflexão sob um novo ponto de vista sobre determinado tema. É um escape do mundo real, que nos dá outras opções de visão, pra vivenciarmos esse mundo de formas melhores.

Mas um artigo escrito recentemente sobre a Alpine Fellowship, uma instituição artística na Suíça, fundada por um companheiro de faculdade meu, Alan, que visa ensinar pintura clássica e promover conhecimento e filosofia no tema da Arte, fala muitíssimo bem sobre o tema. O artigo descreve a palestra do Filósofo e Professor Roger Scruton.

"Como um dos mais ilustres filósofos do mundo (e prolífico), Roger Scruton tem escrito sobre temas que vão desde a política conservadora e educação à caça e ao meio ambiente. Sua especialidade, porém, é a estética, o assunto em que ele completou seu doutorado e é, talvez, principal teórico do mundo no mesmo. Mas a questão da estética é, para Scruton, nunca um caso isolado. 'As coisas com que nós mesmos nos cercamos e as escolhas que fazemos sobre o que admirar vem a determinar quem somos'.Para Scruton, a beleza é um meio de justificar a vida - talvez o único -, então, não só há pouca coisa mais importante do que discutir o sentido e a direção que a Arte toma, mas não há nenhuma esfera da vida que não é afetada pela sua trajetória de evolução."

A arte afeta a todos nós, diariamente, em muitos sentidos. A arte pra mim é uma forma de se conectar com emoções, e de tornar mais humano. Antigamente, quando não existiam livros, internet, filmes, as obras de arte eram os únicos escapes que as pessoas tinham. E foi por isso que surgiu a arte, não foi? Para expressar, e fazer sentir. As obras de arte eram feitas para celebrar a vida, as coisas reais em volta das pessoas, para transmitir idéia e sentimentos, contar estórias e histórias. As pessoas podiam ler uma estória em um escultura, ou em qualquer outra forma de arte.

"Arte sugere uma maneira de ser, e nos convida a viver dentro de sua visão. Ela cria um lugar em que nós queremos estar, um lugar em que habitamos simultaneamente enquanto nos esforçamos para chegar lá. Um destino que não precisa de justificação além de si mesmo."

A Arte nos transporta para um novo mundo, dentro de nós mesmos, onde podemos aprender e refletir, e mudar. 


"Arte é importante porque ela nos fornece a oportunidade de parar a marcha do tempo, para estar na frente de nós mesmos e reconhecer o que nos tornamos. Talvez até mesmo a julgar o que vemos."

Professor Scruton observou que, tanto como o amor, a arte pode perder sua pureza, se diluída pelo questionamento excessivo. Muitas vezes, devemos simplesmente aprender a cuidar de uma coisa antes de perguntar em que consiste o seu valor. E uma vez que o nosso tempo é de natureza limitada, o esforço para nos refletir na arte - mesmo que apenas temporariamente - será sempre mais nobre do que o desejo de colocar a pequenez da vida na tela.

E acho que com esta última frase ele quis dizer que refletir e nos espelhar na Arte é mais importante do que a vontade de expressar qualquer mediocridade do dia-a-dia em qualquer forma barata de arte. 
Ou seja, sonhar é mais importante, como eu falei antes =]